quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O amor é Velho-Menina

O amor é velho, velho, velho
E menina.
O amor é trilha
De lençóis e culpa
Medo e maravilha.

O tempo a vida lida
Andam pelo chão,
O amor aeroplanos
O amor zomba dos anos,
O amor anda nos tangos,
No rastro dos ciganos,
No vão dos oceanos.

O amor é poço
Onde se despejam
Lixo e brilhantes:
Orações, sacrifícios, traições.



(Tom Zé)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

c'est fini


Ausência



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.




MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010


Um velho amor largado. Pronto pra ser reciclado.

Um amor procurado por toda casa nos lugares errados. Nos armários limpos. Entre taças. Louças. Dentro de caixas fechadas com laços. Sob tapetes varridos. Cantos desinfetados. Um amor chamado no grito. No gemido da febre. No cochicho da oração. Um amor sumido. Necessitado.



Eduardo Baszczyn



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Primeiro eu quero falar de amor

meu amor se esparrama na grama
meu amor se esparrama na cama
meu amor se espreguiça
meu amor deita e rola no planeta


Chacal

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Dois trechos, dois sentidos

"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções."


"Essa morte constante das coisas é o que mais dói"


(Caio Fernando Abreu)

domingo, 8 de agosto de 2010


ESTRELA DA MANHÃ

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa? Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras

Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
eu quero a estrela da manhã



Manuel Bandeira

sábado, 24 de julho de 2010


Abeja Al Panal - Juan Luis Guerra

http://www.youtube.com/watch?v=pC9jps02cXo

Quiéreme como te quiero a ti
Dame tu amor sin medida
Búscame como abeja al panal
Liba la miel de mi vida

sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Quando houver contraste
entre a tua alegria e um céu cinzento
ou entre a tua tristeza e um céu sem nuvens
bendiz o desencontro:
é aviso divino de que o mundo
não começa e nem acaba em ti."

(Dom Helder Camara)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dia em que o Brasil saiu da Copa




Pelo menos o dia começou lindo. Os ipês estão todos em flor.

Vista da minha janela:





Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

terça-feira, 29 de junho de 2010


Minha grande ternura

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.

(Manuel Bandeira)

Sabedoria de Mafalda:


angústia sem fim...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Primeira

Começo estes escritos para que daqui a algum tempo eu possa conseguir me lembrar, ou ter uma vaga ideia, daquilo que senti e vivi em cada dia.
Muitas vezes as palavras do outros podem expressar com mais clareza o que a gente sente e não consegue ordenar em senteças...